LOGOTIPO

IIº CONGRESSO da EASTAP
Lisboa, 23-24-25 de Setembro de 2019
Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa
Teatro Nacional D. Maria II

CHAMADA À SUBMISSÃO DE COMUNICAÇÕES

O IIº Congresso da EASTAP (European Association for the Study of Theatre and Performance) terá lugar na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e no Teatro Nacional D. Maria II, nos dias 23, 24 e 25 de Setembro de 2019. O tema proposto para debate é Memória(s) partilhada(s): criação, investigação e política na cena europeia contemporânea.

O trabalho da memória tem sido objeto de inquirição por parte da história, da ciência da cognição, da psicanálise, da linguística, da literatura, dos estudos culturais e da performance, da sociologia, ou seja, das ciências que procuram compreender como processamos a nossa experiência no mundo. Associada à conservação e ao acesso aos saberes, encontramos a memória materializada através de dispositivos mnemónicos que Frances Yates (1966) mostrou ligarem desde sempre espaço e soma de conhecimento, como, no século XVI, fizeram os teatros da memória de Giulio Camillo e Giordano Bruno. Hoje a massa de informação (big data) e a ligação dos objectos em rede (internet das coisas) colocam-nos perante a mesma necessidade de perceber como e o que registamos dessa massa de informação ao nosso alcance, mas, sobretudo, que papel tem a memória na configuração das identidades individuais e coletivas.

Ao longo do século passado falou-se de memória coletiva (Halbwachs, 1925), de teatros de memória (Banu, 1987), de memória-hábito  (Connerton, 1989), de lugares de memória (Nora, 1984-1994) e mais recentemente, como sequela dos debates sobre o Holocausto, de memória incorporada (Taylor, 2003), de pós-memória (Hirsh, 2008) e de memória como ato performativo continuado (Schneider, 2011) para descrever processos que nos deslocam entre passado e presente, comunidade e indivíduo, numa palavra, entre tipos específicos de performatividade; entre a aparente fixidez do ritual e da comemoração e a errância própria da memória, ora deixando rastos e produzindo estratificações, ora apagando seletivamente. Neste sentido, tem-se igualmente falado de indústria e turismo da memória (Traverso, 2005, Schneider, 2011). A obsessão com a produção e utilização do arquivo, entendido como repositório de experiências e saberes a reactivar invadiu também o campo artístico e rege a prática artística como investigação.

Procurar compreender como funciona e o que representa a memória para o indivíduo e para o colectivo em que está inserido, em que consiste recordar e esquecer, teve consequências na reapreciação de certas práticas e representações humanas: produção de histórias de vida, registos fotográficos de actos públicos e privados, cinema documental, criação de arquivos e bases de dados, uso da narrativa em medicina, construção de memoriais e comemoração de momentos selectos, enfim, apagamentos, usos e desusos que excluíram, reviram ou reforçaram narrativas aceites como dominantes.

De um lado reconhecemos as diferentes amnésias do nosso tempo, o receio da robotização, da inteligência artificial, da realidade expandida e do holograma, do outro deparamos com o registo compulsivo das nossas acções “para memória futura”. Onde se situa o teatro e a performance nesta problemática? Como uma arte da memória? Como dispositivo mnemónico que põe uma comunidade temporariamente a recordar em conjunto e, sobretudo, a produzir memórias, a projectar a memória num espaço-tempo de partilha? A memorabilia teatral constituída para prazer de coleccionadores não é a expressão única e mais evidente das modalidades de registo e recuperação mnemónica das experiências pessoal, cognitiva e colectiva do teatro e do espectáculo.

O tópico da memória encontra o teatro e as artes performativas justamente através da dimensão performativa. Vêmo-la actuar na potência do testemunho, nas materialidades do real, na não separação do público e do privado, na prevalência do processo que liga artistas e espectadores no encontro/confronto de memórias. Podemos falar de um teatro entendido como palimpsesto que deixa ver o que se escreve, rasura e reescreve no corpo-memória dos actores, mas também no corpo dos que estando presentes refazem e refundam as suas memórias em permanência.

Neste IIº Congresso da EASTAP, pretende-se reactivar a discussão sobre o papel da memória na criação teatral contemporânea através de três eixos fundamentais que se entrecruzam:

I. A Memória no Teatro – O processo de criação na sua relação com o trabalho da memória

  1. Memória partilhada de experiências e saberes;
  2. Prática teatral como testemunho de(a) memória: texto, corpo, imagem, anotação;
  3. Memória e antropologia: observação, registo, armazenamento e arquivo no ato criativo;
  4. Memória e produção de identidade(s).

II. A Memória do Teatro – Investigação e recorte da memória

  1. Prática artística como investigação: performatividade da memória e cognição;
  2. O teatro entre história e memória;
  3. Fazedores, público(s) e memória(s) de teatro: os discursos das comunidades de observadores, de espectadores, de atores, de diretores, de críticos;
  4. Da memória como território em construção (textos, imagens, narrativas).

III. O Teatro da Memória – As políticas da memória nas sociedades atuais e novas formas teatrais

  1. Identidade, narrativa(s) e partilha da memória;
  2. Memória e esquecimento: poderes do teatro nas políticas da memória;
  3. Memória artificial e digital: experimentações artísticas;
  4. Da «memória de stock» à «memória de fluxo»;
  5. Memória e irrupção do real: do teatro documentário ao teatro do real.

O tema visa, portanto, congregar perspetivas (inter)disciplinares diversas (estudos artísticos e da performance, estudos visuais, ciências cognitivas, ciências sociais, estudos literários, história cultural), bem como reunir artistas, que serão divulgados em breve, cujas criações não estão longe da investigação e da política. Deste modo, artistas e investigadores estarão em pé de igualdade na discussão do tema e apresentarão os seus pontos de vista através de comunicações, de palestras-performances, de entrevistas ou de registos audiovisuais comentados do seu trabalho.

Maria João Brilhante

Centro de Estudos de Teatro, Universidade de Lisboa (mbrilhante@campus.ul.pt)

Tiago Rodrigues

Teatro Nacional D. Maria II (trodrigues@tndm.pt)

 

COMO SUBMETER UMA COMUNICAÇÃO

Se deseja submeter uma comunicação, veja, por favor, abaixo as Normas de submissão e envie a sua proposta até 15 de Maio de 2019 aos programadores do IIº Congresso da EASTAP para o endereço eletrónico eastapconference.lisbon2019@gmail.com

As comunicações terão a duração de 15m e 10m de discussão.

A seleção das comunicações e painéis será feita pelos organizadores da Conferência com a consultoria da Comissão Científica e as decisões serão comunicadas até 7 de Junho de 2019.

Línguas do Congresso: Inglês, Francês, Português.

A inscrição no Congresso pode ser feita até dia 1 de Julho, seguindo as indicações fornecidas em https://www.eastap.com/registration/

Membros regulares da EASTAP: 60€

Estudantes: 30€

Note-se que a inscrição na EASTAP é obrigatória.

Questões relacionadas com a inscrição devem ser colocadas através do através do endereço registration@eastap.com

 

NORMAS DE SUBMISSÃO

Indicar:

  • Nome, instituição
  • Resumo de 300 palavras em Inglês e na língua em que a comunicação será apresentada (PT ou FR), em documento Word, Times New Roman, 12pt.
  • Eixo temático em que a comunicação se insere
  • CV com 100 palavras
  •  Requisitos técnicos

 

Para mais informações consulte:

https://eastap.com